Figuras do Presépio invadem Monsaraz!

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Presépio gigante de rua, com figuras em tamanho real, regressa sexta-feira a Monsaraz. Pelas 11 da manhã, nas Portas da Vila, o Grupo Coral da Freguesia de Monsaraz abre a festa com os seus Cantos de Natal. As Figuras do Presépio tomam conta de Monsaraz. E até aos Reis, a vila medieval é delas! Delas (de quantos a habitam e gostam!) e dos muitos milhares que vão passar por lá para ver Natal dentro de muralhas com vistas d'Alqueva Espraia-se pelas ruas da vila até ao Largo do Castelo. Aí ficará o conjunto principal: A Virgem, São José e o Menino Jesus. As outras figuras (ao todo são 48) distribuem-se pelas ruas da vila. Em tamanho natural, estruturas de ferro e rede, cobertas por panos de cor crua, pintadas em tons pastel, rosa velho e lilases. Caras e mãos feitas em cerâmica. Por lá vão estar os Reis Magos, o pastor, os guardas do castelo, o oleiro, o almocreve, a lavadeira e a fiadeira. E muito mais! Tudo impermeabilizado e tratado para aguentar a chuva. À noi

Ânforas, potes, talhas... Alentejo, saberes e artes Património da Humanidade!

Bicho da cidade, só na casa dos 30 descobri os Vinhos de Talha. E fiquei a devê-lo àquele cidadão de Marvão com quem me cruzei lá no alto da vila muralhada.

Eram quase horas de almoço. Sempre gostei de dirigir, a quem encontrava nas terras por onde andava, a sacramental pergunta:
- Oh amigo, aqui onde é que vou almoçar?
A resposta veio pronta e sem questionamentos laterais:
- Você aqui está tramado. Vai gastar uma data de dinheiro e comer mal. Desça lá abaixo à Portagem e pergunte pelo "Milomes".

Já na beira do Sever, descobri que Milomes era pronúncia abreviada e acento local de Mil Homens, apelido do dono... que acabou nome da casa de comedorias.
Quase tão desconfiado como o Jacinto do Eça de Queirós, entrei, sentei-me e fiquei receoso com o cenário à minha volta. Estive quase para sair. Mas, depois, veio  a sopa de sarapatel e o ensopado. O vinho não me deixaram escolher: era mesmo o da casa. De início estranhei, mas fui gostando dele à medida que ia bebericando.
Era Vinho de Talha, disseram-me. Como manifestei curiosidade, no final levaram-me à adega para ver as talhas - uns imensos potes de barro - e explicarem como se fazia o vinho. Fiquei fã da comida, do restaurante e... do vinho!

Mais tarde, aprendi em Niza o que era isso das duas voltas do vinho na talha. E, em Redondo, o Presidente da Câmara levou-me a uma taberna que só encerrava dois dias no ano: quando as talhas eram cheias e quando o vinho dava a volta.

Triste fiquei na Adega do Isaías, em Estremoz, quando me contaram que as talhas estavam em risco porque as autoridades sanitárias e/ou económicas não permitiam que refeições fossem servidas em sala onde vinho fermentava nas talhas. Esvaziadas, o barro ia esboroando por dentro...

Já em Évora foi o deslumbramento quando, depois de um jantar no Aqueduto,  me apresentaram umas talhas imensas -  no espaço por baixo da sala refeiçoeira. Tão grandes que... não poderiam ter entrado pelas portas! Ou seja, tinham sido colocadas antes de ser fechada a parede da casa. Coisas de outros tempos!

 E, a seguir à emissão do Feira Franca (duas horas em directo para a Antena 1), aquele fim de festa na Vidigueira: Almoço com coral polifónico e coral tradicional juntos nas modas alentejanas.
Sem recusar a passagem por Vila de Frades e o garrafão de Vinho de Talha...!

Muitas outras histórias haveria para contar a propósito destas artes de fazer vinho em ânforas de barro. Não digo mais nada. Passo a palavra a quem disso sabe bem mais do que eu.

Vejam este vídeo:
(Para muitos, será uma verdadeira descoberta desvendar o segredo do vinho em talha!)



Mas se restarem ainda algumas dúvidas, acredito que as imagens e as explicações deste outro vídeo serão concludentes.
Dêem uma vista de olhos:



Segredos e artes, com mais de 2 mil anos de história, agora ameaçados. Não que estes vinhos faltem amantes fervorosos. Bem pelo contrário: A procura disparou e é este interesse do mercado que pode pôr em perigo tão antigo processo de fazer vinho.
Para poderem dar resposta ao mercado e rentabilizar o produto, vão ter a tendência de massificar e industrializar a produção e não irão cumprir com todas as regras a que a tradição obriga.
O alerta é do  Presidente da Câmara Municipal da Vidigueira que lidera um grupo de autarcas que assume a iniciativa de candidatura do Vinho de Talha à declaração, pela UNESCO, de Património da Humanidade.
A massificação e a industrialização da produção vão deturpar e estragar o vinho de talha na sua essência, que é o saber fazer de forma artesanal, em talhas de barro e segundo determinadas técnicas.
A afirmação do edil da Vidigueira destaca a necessidade de salvaguardar as características únicas daqueles vinhos. E justifica a decisão de avançar para a candidatura.

Pela nossa parte fica já assente que o conjunto das nossas Páginas e Grupos na net se irá envolver ardorosamente nesta campanha. Prometemos dinamizar o apoio - dos 2 milhões que somos no universo da Língua Portuguesa - a favor da mais que justa distinção dos Vinhos de Talha. Para que se não percam saberes, memórias e parcelas da nossa História Colectiva.
  • Contem connosco! E vão-nos facultando elementos de divulgação e alerta para esta acção.
  • Foi o que fizemos, por exemplo, em relação à candidatura do Fado ou do Cante Alentejano.


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